quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Supernova

Uma noite dessas, enquanto te ouvia cantar, pensei em escrever um poema pra você. Eu tinha o título, alguns versos... Mas sentei em frente à folha em branco e meus pensamentos não são mais capazes de dançar em forma de poesia. Talvez eu ainda consiga dar de presente uma prosa poética pra quem devolveu a poesia pra minha vida. Ou talvez sejam somente breguices escritas de forma linear. Quem sabe? Eu escolhi me arriscar.
Assim como eu escolhi me arriscar novamente ao decidir que não ia fugir quando comecei a sentir. Mas acreditar em você não foi uma escolha. É intrínseco, instintivo e inevitável. Não tive escolha, e se tivesse, escolheria confiar em você.
Quando eu ouço a tua voz e quando sinto tua energia, é como se toda uma galáxia nova nascesse dentro de mim. Cada uma das estrelas são coisas boas que você me faz sentir, e que eu quero retribuir.

Um dia houve uma explosão e todo um universo nasceu. Nós, beibe, somos feitos de poeira estelar. Um dia, vai haver todo um universo feito das galáxias desse nosso sentimento. 


segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Eutanásia



não tenho mais saúde 
pra buscar sozinha 
a cura a dois que não se realiza

vou desligar os aparelhos 
do amor que vegeta 
do amor que agoniza 

quando, enfim, a morte abraçar
o que sobrou de nós 

visite o túmulo desse amor
deposite flores na lápide 
do amor que eu nutri com minha essência 

junto com ele morreu a mulher
que só tu conheceu. 

junto com ele morreu a fé 
que eu insisti em cultivar. 

quando, enfim, a morte abraçar 
o que sobrou de nós 

faça uma oração pelo 
cadáver de um amor 

eu já tenho as mãos frias


segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Sinto muito... por você.

Sinto muito por você se, ao desaparecer sem qualquer motivo aparente, acha que tua falta vai despertar mais que gargalhadas e irritação momentânea.
Sinto muito por você se, ao ganhar-me uma vez, acha que a conquista permanece intocável ainda que tu sejas tolo.
Sinto muito por você, se te dei a impressão que me despertavas um interesse maior do que o casual.
Sinto muito por você, se pensou que afetavas minha autoestima e o amor incondicional que sinto pela mulher absolutamente fantástica que me tornei.
Sinto muito por você, se pensa que te provocar representa mais do que diversão momentânea.
Sinto muito por você, se não tens senso de humor pra acompanhar minha ironia e minha acidez.
Sinto muito por você, se pensa que me impressiona com teu sexo raso e falocêntrico.
Sinto muito por você, se pensa que há algum laço que me prenda a ti mesmo com as tuas ideias equivocadas.
Sinto muito por você, se pensa que há algo que me faça suportar teu pseudo-intelectualismo.
Sinto muito por você, se pensa que me tem sem esforço.
Sinto muito por você, se pensas que pode significar algo depois dele.
Sinto muito por você, se pensas que pode significar algo depois de mim. Do meu amor. De eu saber o que vem em  primeiro lugar na minha lista de prioridades.
Sinto muito por você, por saber que amanhã, quando te arrependeres, será tarde demais pra ti.
Sinto muito por você, se acha que amanhã vou lembrar teu nome.

Sinto muito por você se tu pensas que eu de fato sinto muito por você.


domingo, 28 de junho de 2015

Lying to

O relógio se aproxima perigosamente das três da manhã, aquela hora em que a solidão ataca da forma mais cruel. Da minha janela, aberta para o vento frio, posso ver a caixa d'água e a lua. O player está tocando aquela canção triste, e ela nunca fez tanto sentido. Abri uma foto tua e fiquei encarando teus olhos na tela do computador.
Céus, Bukowski invejaria o fundo do poço em que me joguei. A garrafa de bebida barata aos pés da cama, a caneca de café vazia, o alimento mal tocado. Os extremos aos quais quero levar meu corpo pra esquecer o que tu sabe fazer com ele. Todos os homens que me desejaram depois de ti e o grito silencioso dos meus olhos pedindo que tu, pelo amor de alguma divindade, me impeça de mergulhar num caminho de onde sei que não voltarei.
Eles querem de mim o que só tu seria capaz de extrair. A entrega total. O acesso total. Tu não precisaste pedir por isso. Ainda me assusta a forma como tu soubeste ler o que ninguém mais sequer tentou entender.  Ainda me assusta que eu tenha puxado os lençóis para cobrir meu corpo quando tu deixaste minha essência nua.
Keaton Henson está certo. Estou mentindo para todos eles. E talvez eu esteja mentindo pra ti também. Quem sabe se não minto pra mim, inclusive. No fundo, eu sou uma solitária. Um desses homens íntegros, honestos e intensos me perguntou se eu acreditava que estaria sempre sozinha. Respondi que não. E não menti. Mas existe uma possibilidade muito grande de que eu acredite que estarei sozinha em todo momento em que desejar companhia. Como agora.
Eu fico aqui deitada, jogando com o destino e pedindo por um sinal que eu sei que não virá.



Well, you know. I’m all about that bass. And you, bass player, know how to pull my strings. 




sábado, 2 de maio de 2015

Had to let you go

Essa é mais uma das cartas que eu escrevo e não envio. Em um tempo não tão remoto, ela chegaria ao destinatário sem que fossem precisos selos ou mesmo remessa. 
Escrevo para dizer que não passou. Que eu passei por ti, as tuas mãos passaram pelo meu corpo, o teu pensamento passou a outras mentes e nosso tempo passou. Mas o que eu sinto não passou. 
Eu lembro teus beijos o tempo todo. Lembro tua boca macia em contraste com a força dos teus braços ao meu redor. Principalmente de madrugada, quando não há ninguém e só posso contar com minha música francesa e meu café. 
Tenho trilhado um caminho e só pretendo retornar se me disseres pra ficar. Eu sei que é patético até mesmo levantar essa hipótese. Eu não posso evitar me tornar patética quando penso no que me fazes sentir. 
Olho as fotos que tiramos juntos e sinto falta da tranquilidade no meu sorriso. Sinto falta das gargalhadas, e de jogar meus braços ao redor do teu pescoço. Quando tu me disseste “até logo”, talvez eu já soubesse que “logo” é um tempo que não existe. 
Eu tenho pensado sobre muitas coisas. Percebi que não importa o quanto eu aceite baixar a guarda e me tornar vulnerável (e acredite, eu realmente estou fazendo isso) eu jamais vou me sentir tão vulnerável quanto me senti no momento em que decifraste meus olhos. 

Talvez seja melhor assim. Talvez seja melhor pra mim.

I had to let you go
To the setting sun
I had to let you go
And find a way back home


domingo, 22 de março de 2015

Pesadelos

Eu tive pesadelos a semana toda. Nenhuma vez você perguntou como eu me sentia. Eu vi cadáveres na geladeira e o que mais me assustou foram as declarações e fotos de casal.  Eu levei um tiro e doeu mais sentir algo depois de todo esse tempo.

Sou a mulher mais segura do mundo quando ando sobre meus pés, mas odeio a sensação de andar nas linhas das tuas mãos.  



quarta-feira, 11 de março de 2015

Pecado Original

A vida é cíclica. Nada poética essa palavra: cíclica. Cí-cli-ca. Burocrática e repetitiva. Também o é a vida. Sabe, tudo se repete. Tudo volta a acontecer. Você vê o relógio dar tantas voltas que te deixa tonta, se distancia de tudo que já foi, move montanhas e reinventa galáxias. E eu me vejo lidando com as mesmas coisas. Os mesmos sentimentos e as mesmas sensações.
No fundo, é o pecado original. E eu não estou falando de religião. Por favor, cara Igreja Católica. Permita-me roubar o conceito de “pecado original” para ressignificar como “atitude que te expulsa do lugar de felicidade para te lançar no padecimento eterno e irreparável”. Falo do pecado original único de cada indivíduo. Aquela dor primeira que ainda doi e jamais cicatriza.
Pra mim, falo daquele desespero secreto e rascante quando ouço teu nome por acaso. Daquela certeza que mesmo teu oposto tem o mesmo olhar que tu. Olhar manso, olhar intenso. Inofensivo, que derruba todas as barreiras. Pra me fazer reconstruí-las em material mais forte no final.

Toda dor se parece infinitamente com a dor original
Todo ciclo pode acabar com o mesmo final
E eu me recuso a crer que é normal
Todo sentimento de ternura abismal
Se desfazer em tristeza estrutural.