segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Fastio existencialista

As palavras de Fitzgerald ainda ecoavam em sua cabeça e reverberavam em suas entranhas. “Transformando o amor em um acidente”. “Estou cinco anos além da idade em que poderia mentir pra mim mesmo e chamar isso de honra”. “Em direção ao passado.” As palavras submergiam na forma de lágrimas que ela teimava em segurar.

Se o fotógrafo de Palahniuk tentasse captar seu fastio existencialista distante em um flash, ele não seria capaz. O cansaço era como o gosto de cigarro na sua boca. Ninguém notaria, a não ser que lhe beijasse os lábios. Talvez uma brisa fosse capaz de movimentar as ondas do seu cabelo de forma a revelá-lo uma única vez aos sentidos de um observador atento.

Se fosse música, seria jazz. Ou um blues, com lágrimas e sangue em cada nota, mesmo nas alegres. Seria a intensidade da black music, em letra e melodia. Jazz que se perde em múltiplos braços e movimentos inúmeros, pra voltar a se encontrar na solidão.


Ela procura a solitude no meio da multidão. Na fila do restaurante, a moça de cachos ruivos e pentagrama no pescoço lhe desperta intenções pagãs. Na mesa ao lado, olhos curiosos se prendem ao seu livro. Os seus próprios olhos se perdem no nada.


segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Pour un infidèle

Furtivo
Fugaz
Entre mordidas, amor mordaz
Estendo minhas palmas e digo morda-as
Enquanto meus beijos se desfazem
Entre tuas espáduas

livre viajar entre teus lábios
livre desejar o ilícito 



domingo, 27 de outubro de 2013

Sobre pássaros cantando à meia-noite e cabelos de fogo

presságios
da minha alma ou da tua
eu ouço um pássaro cantar à meia-noite
eu leio teu nome por acaso
eu sinto um arrepio
presságios
dos teus cabelos de fogo nos meus dedos
de me queimar no fogo do desconhecido
presságios
da pressa de você tomando conta
de ser presa pra tua caça 
presságios
de sol em aquário
amanhecendo em mim

e hoje quando o dia nasceu

o céu tinha a cor dos teus cabelos



11.06.2013

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

de espuma e trovão





fecho a porta e
apago a luz e
deixo os pensamentos ascenderem e
cada trovão é chuva que cai no meu chuveiro

água que corre
aqui dentro e lá fora
poesia que insiste
do meu corpo pra fora
do teu corpo pra dentro
do meu

água que corre
pensamentos que percorrem
são os raios que molham minha pele
são meus dentes que mordem
de ciúmes minha alma 

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Captura da liberdade

um amor que capture
todas as nuances de sentimento

como uma folha que captura
todas as nuances do outono

uma liberdade que capture
todas as nuances de independência

uma tranquilidade que captura
todas as nuances de exaltação

uma personalidade que capture
todas as nuances de verdade

uma multiplicidade fragmentada
que permita ser por inteira



segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Amada Farsa

Eu desci do teu carro com as pernas bambas e o gosto de último beijo nos lábios. Não que você tenha dito que era o último. Mas eu sempre fui uma ótima leitora e li nos teus olhos todas as entrelinhas do que você não disse. Desci apressada pra fugir de perto do mais bem sucedido fracasso amoroso.
Teu abraço forte, teus braços me dizendo que me queriam perto já não foram mais suficientes para me convencer que tua atuação comigo era real.
Isso já faz tanto tempo que nos perdemos entre mentiras e confissões. Naquelas coisas importantes que só eu sei e nas banalidades que eu jamais saberei. Já faz tanto tempo que eu não vejo mais você nos gestos alheios, nem te ouço nas músicas que me inspiravam.
Se já não te vejo num qualquer, ainda sinto teus lábios nas minhas têmporas. Ainda sinto o cheiro de fruta do teu cabelo e ouço tua risada insana que me devolveu a sanidade de sentir.
Querida farsa... Tua atuação foi comigo ou segues todos os dias encenando uma peça sem último ato? Até quando vais seguir camaleão, mudando a atuação como o sol muda a cor dos teus olhos?
Amada farsa. Teus olhos de cor incerta me davam a certeza de que perto de você eu não poderia nem deveria me sentir segura. Agora eu vejo que não tive sensibilidade suficiente pra te captar nos momentos em que você se revelou sem querer. Ou talvez eu tenha capturado pra mim tudo que vi em ti de tão bonito... E agora só sobrou o que eu não quis ver.
Se fecho os olhos, ainda vejo o menino que amei em ti.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Eu estava lá

Eu estava lá, beibe. Não tenho certeza se tu reparaste. Talvez tenha sido só um detalhe da paisagem que esqueceste de ver. Eu estava lá, enquanto tu buscavas o teu prazer. Eu olhei nos teus olhos enquanto tu fechavas os teus.
Sabe, depois de tanto tempo, eu estava lá. Depois de tanto tempo, éramos nós. Compreendo que talvez tu não tenhas tido tempo de reparar. Sob o teu, era outro corpo. Eram curvas e pele, eram aromas e gostos. Que, compreendo, tu não percebeste. Além do centro, era toda uma miríade de sensações que tu jamais terás novamente.
Eu realmente estava lá. E tu, onde estavas? Tão dentro de si que esqueceu de perceber que há outros jeitos menos objetivos de se estar dentro de alguém. Nós dois sabemos que a inspiração é externa, e é a poesia que vem de dentro. Para ti, jamais serei poesia porque quando bebeu dos meus lábios, tua sede era superficial.
Eu estava lá, tanto quanto estava quando tu disseste que aquela seria uma conversa de pele, porque nossas almas já conversavam de outras eras. Eu estava lá assistindo o teu monólogo. Porque não, não conversamos. Te ouvi falar freneticamente, olhei pra tua alma e tu... Não estavas lá. 


quarta-feira, 31 de julho de 2013

Pedaços mais bonitos

Nesse bar inconstante
Rabiscos sentimentos insanos
Danço com a solidão
E vejo acentos estranhos

Nesse bar memorável
Rabisco pensamentos finitos
Beijo a amizade nos lábios
E vejo os pedaços mais bonitos

De mim.



Os primeiros quatro versos são da Giovana, poetisa do Surto Sinestésico.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Tardes de Maio

E quando eu cheguei
já era tarde

a beleza das tardes de maio
já era chegada

e em maio, já era tarde
em maio, já era partida

eu me pergunto se algum dia
amanhecerá para nós

me pergunto se algum dia
a manhã descerá sobre nós

sobre nus
de quem tenta ensinar a vida

que nunca é tarde
quando o meio é amor




segunda-feira, 3 de junho de 2013

Tristeza hipotética fundamental

há para os poetas
uma certa melancolia
uma certa reflexividade
uma certa calma aparente
uma tempestuosidade incerta

uma dor permanente
um amor dissidente
uma desilusão contundente

não se sabe como, nem porque
mesmo as poesias alegres
são tristes
mesmo que de uma tristeza passada

poesia
sem lágrimas e sangue
é hipocrisia

no topo da ordem do poeta
há a tristeza, talvez passada
sempre pesada

a desordem do ordenamento poético
depende
da tristeza hipotética fundamental


quarta-feira, 29 de maio de 2013

Voz do vento nessa cidade

As noites dessa cidade
ainda me remetem
à você
ao que nos retem

As vozes daquela cidade
ainda me afogam
em você
no que nos mantem em voga

Os ventos de todas as cidades
ainda me incendeiam
por você
por todas as rimas em fogo
consumidas


terça-feira, 21 de maio de 2013

celeste pintura

Uma mão descuidada
derramou o tinteiro
entre as nuvens do céu

Uma mão descuidada
derramou o tinteiro
entre os caminhos da gente

Uma mão descuidada
um tinteiro derramado
uma obra de arte
um sentimento que parte

Poesia,
até que eu me farte

Poesia,
enquanto você me falte

segunda-feira, 22 de abril de 2013

eu mais que a mim


Tem  coisas mais importantes que o meu orgulho.
Tem momentos mais intensos que vingança.
Tem coisas mais urgentes que a minha vaidade.
Tem amores que não podem perder a esperança.

E eu prefiro me despir da altivez
Do que vestir o negro do arrependimento. 



sábado, 13 de abril de 2013

uni-versum


finitos nós
o que nos amarra
pro infinito
também é finito

é uma questão de
amar durar mais do que
duras as amarras

sábado, 23 de março de 2013

Intrínseco


meus delírios de uma segunda-feira sonolenta
meus sorrisos de uma terça-feira cinzenta
minhas risadas de uma quarta-feira entediante
minha expectativa de uma quinta-feira apressada
meu segredo em uma sexta-feira deliciada
minhas lágrimas de um sábado à tarde
meus porres solitários de sábado à noite
meu desespero de um domingo que cheira a esperança

num Leminski
num samba
em qualquer refrão que fale de amor
em qualquer tristeza que cheire a desamor
em todas as entrelinhas das minhas poesias
em cada glóbulo do meu sangue
dentro do meu globo ocular
dendritos axônios
nos ápices das minhas sinapses



Você


segunda-feira, 4 de março de 2013

Pensamentos crus


Eu ainda penso em você
Quando penso em um bom canalha
Quando volto para a academia

Eu ainda penso em você
Quando penso em fogo
Em sentimentos crus

Eu ainda penso em você
Quando desejo corpos nus
Quando aspiro filosofia

Quando eu ainda penso em você,
                                                expiro poesia.



domingo, 10 de fevereiro de 2013

Beijos Fantasmas




Minha boca ainda sente a ausência da tua. Dos beijos fantasmas que nunca trocamos e ainda me assombram. Do toque da tua mão e do estremecimento de tocar tua pele. Sinto falta de desperdiçar oportunidades e acumular pequenas vitórias  em cada sorriso que me dedicaste. Como explicar que minhas poesias ainda sejam tuas, se já não és mais soberano nos meus sentimentos? Temo que a soberania do meu lirismo te pertença, ainda que jamais eu vá te pertencer. 

sábado, 26 de janeiro de 2013

Mordida


Morde
Como se desejasse levar de mim um pedaço.

Morde
Com o apetite que desperta o fruto que te é proibido

Morde
E teus lábios acariciam enquanto teu olhar me devora

Morde
e meu silêncio te percorre com avidez

Morde
Durante toda noite a tua lembrança vai ficar na minha tez


quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Tempestade e Calmaria

O de hoje vem a quatro mãos, com Giovana Vanzin Raldi do SOS. Disco Voador.


poemas bonitos gera em mim
todos relacionados a nuvens e estrelas
e ternura
poemas leves e claros
com cheiro de algodão doce


já ele...
tem jeito de café e filosofia
me nasce em poemas fortes e escuros
com cheiro de vinho e madeira


todas coisas ficam leves e livres quando penso nele

em mim, ele converte o peso do mundo em liberdade

a paixão que sinto por ele é noite, estrelas que vem do seu sorriso

essa paixão me é tempestade
a qualquer hora do dia
ventos que não deixam nada como era


porem meus sentimentos por ele são calmaria, solidez e frescor

por ele, mergulho no calor do incerto que tumultua


por eles, nos perdemos
neles, nos encontramos
em nós... poetizamos







segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Inconsciente


Inconsciente
me procuras
ciente de perder-se em mim

Inconsciente
me lembras
ciente de esquecer-te do esquecer

Inconsciente
me desejas
ciente de ter-me menos do que gostaria

Inconsciente
ainda estou em ti
ciente de que um dia
meu coração pode despertar

E aí então
adormeça teu inconsciente
pois minha voz não mais te acordará.

Você... recordará. 

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

duas lágrimas


e há tempos não consigo
mais do que duas lágrimas por você

duas lágrimas
por não viver

duas lágrimas
que nascem doloridas
de cada colorido que já tivemos

duas lágrimas
do futuro que se foi
do passado que ficou

lágrimas de arco-íris
que tem as mil cores
do vestido que eu não vou usar
da melodia que não vamos escutar

duas lágrimas
uma porque você é
outra porque já não somos.