terça-feira, 8 de maio de 2012

Susanne

- Não é isso, Justine... Não é tão grave assim. 
- Então o que é, Tom? 
- É um cansaço físico. Uma exaustão... Mental, emocional. Eu amo tudo o que faço. Cada tarefa do meu dia, cada perda de tempo. Mas, Justine... Eu sinto falta de algo. Talvez seja alguém, não sei. Uma situação. Realmente não sei. Esse vazio não há escrita, leitura, trabalho ou estudo que preencha. Nada. 
- E aquela mulher? Aquela, Tom, a que te fascinou, e te surpreendeu quando te quis por perto? Susan, Susanne, algo assim. 
- Ela é uma das maiores causas do meu cansaço. Construí algo em cima de expectativas e carências. Nem ao menos construí: imaginei. Mas com imaginação não satisfeita ou concretizada eu sei lidar. Só não sei, Justine, como lidar com essa mulher. Susanne não tem a atitude que se espera de uma mulher como ela. Se perde em subterfúgios, não sabe quando encerrar seus joguinhos. E não me entenda mal... Eu adoro os jogos e subterfúgios de Susanne. Susanne não seria Susanne sem eles. Mas uma mulher tão... mulher deveria saber exatamente o que quer. Ela me fascina e me repele, cada vez mais. 
- O que te tira tanto do sério, Tom? Você sabia exatamente com o que estava se envolvendo quando deixou Susanne tomar essa proporção.
- Susanne tem sido apelativa demais. Talvez nem perceba o que está fazendo quando se perde em elogios para outros caras por aí: o retratista da praça tem muito talento, as poesias do primo de Melissa são sublimes, até o verdureiro tem olhos perturbadores. Não, minha Justine, não é ciúmes. Nem possessividade. É claro que eu concordo que o talento do retratista é imenso! Mas Susanne tem exagerado nesse tipo de coisa, tem feito tudo girar ao redor disso. Eu encaro com bom humor, eu relevo. Porque Susanne não me pertence, e não é algo assim que existe entre nós (mas o que é, Justine? isso também me incomoda). Porque se ela quisesse tanto ao primo de Melissa, ao verdureiro, ou a qualquer um, é bem mulher para fasciná-los como fez comigo. Não precisa de mim para isso, para qualquer tipo de aproximação. E se, deliberadamente me perturba com eles, é porque eu não sei evitar!
- E porque, Tom, meu adorado Tom, você não se afasta de Susanne? 
- Susanne me desafia, me estimula a ir além, a não me conformar, a pensar, a pensar diferente e me superar. Eu não posso abrir mão disso. 
- O que você vai fazer, Tom?
- Não há nada, Justine... Só o tempo pode me dizer. 
- Eu sinto tanto, Tom, por ver você se consumindo assim. 
- Ela me consome e me constrói ao mesmo tempo. 
...
- Justine, vi um Landau incrível na rua hoje. Lembrei de você. 
- Ah, Tom, e onde está a foto?
- Não tinha bateria, Justine. Mas... senti tua falta. E dessa nossa amizade gauche. E... do teu abraço. 
- Eu também, Tom.



quinta-feira, 3 de maio de 2012

Deixa ser


Talvez não seja, enfim
E eu criei um outro mundo ao redor de mim
Mas se for, então
Nunca antes foi igual
E daqui pra frente sempre diferente.

Talvez não seja nada.
Talvez isso seja o mundo, e seja tudo
Talvez não seja o dever-ser
Mas se tem que ser, não vou correr

Se for desatino, é pelas mãos do destino.
Se no final não for,
Por agora
Deixa ser.