quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Panis Et Circensis Brasileiro

A cultura brasileira destaca-se no cenário mundial como uma cultura de alegria e irreverência impressionante. Como símbolo dessa cultura, podemos citar o Carnaval, festa tipicamente brasileira e alegre como poucas no mundo. Os desfiles das escolas de samba pelas avenidas no Brasil afora nos traz diversas reflexões, desde o tema abordado nos sambas enredo até os custos dos majestosos carros alegóricos.
Como uma festa que celebra a alegria, o Carnaval tem diversos aspectos positivos. É indiscutível que o povo brasileiro encontra no Carnaval uma fonte de alegria, celebrando a própria. Porém, muitas vezes isto mascara problemas reais e insolúveis.
A grande maioria da população, principalmente das camadas mais humildes dedica todo seu potencial criativo, que poderia ser melhor aproveitado em tarefas sociais, na concretização dessa comemoração. O Estado também tem uma grande participação na festa popular, com verbas e incentivos.
É absolutamente inaceitável que num país carente, subdesenvolvido, necessitado de tanto e de tudo, continue-se a empregar milhões e milhões em fantasias e carros alegóricos durante uma semana. Nesse ínterim, milhares de pessoas morrem num sistema de saúde precário, crianças sofrem em meio a uma pseudoeducação deficiente e a falta de emprego humilha e acaba com a dignidade do cidadão.
Essa política, de dar ao povo o que o povo pede, a alegria que se espera, mesmo que durante uma única semana, é tão antiga quanto o próprio Carnaval. Os políticos romanos a usavam enquanto o povo perdia suas vidas e desperdiçava tempo. Hoje, ainda é utilizada para maquilar a realidade deprimente e passar ao mundo uma imagem de um povo satisfeito e feliz. Enquanto isso, o povo assiste sorrindo o desfile da hipocrisia e da mentira na Sapucaí, realizando-se entre plumas e paetês, mesmo que não passemos de analfabetos funcionais, mesmo que o feijão e o arroz não cheguem à nossas mesas.


Texto escrito em julho de 2010 para avaliação escolar. 

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

A Internet na Mídia

O cotidiano do homem moderno é cada vez mais cômodo, mais confortável, mas também muito mais isolado e sedentário. Entre as diversas ferramentas tecnológicas que contribuíram para esta situação está a Internet, com as inúmeras possibilidades que temos em mãos com um computador conectado à rede mundial. Aliando ferramenta de trabalho com passatempo popular, a Internet é atualmente presença na maioria das residências brasileiras. Em grande evidência na mídia, a mídia também é facilmente encontrada em suas páginas.
Pode-se afirmar que a Internet é um veículo de comunicação muito mais abrangente em termos de assunto do que os demais, apesar do alcance da televisão, por enquanto, ser mais alto. A variedade de conteúdo em seus sites abrange seguramente todos os assuntos do interesse humano. Consequentemente, teremos seres humanos com intenções as mais variadas utilizando-se dos serviços desta rede, principalmente para o potencial de contato humano que ela nos oferece.
Não é esta, porém, a visão que a mídia televisiva nos transmite a todo instante. As notícias mais comuns envolvendo o mundo virtual provem de crimes, como fraudes e pedofilia. Somos condicionados a acreditar que toda e qualquer pessoa que entrar em contato conosco na Internet é desonesta, e seremos vítimas de fraudes e outros crimes a cada clique. Porém, não chega a nosso conhecimento fatos triviais que o conhecimento direto desta ferramenta nos transmite: amizades e amores sinceros que nascem ou se mantem virtualmente, conhecimentos expandidos e difundidos, como muitas outras maravilhas, impossíveis há quinze anos, mas hoje consideradas banalidades.
É claramente visível o interesse da mídia em manter a população longe de fontes de cultura facilmente acessíveis, pois quem tem acesso a pontos de vistas diferentes tem material para formular opiniões próprias. Num país onde informações são escolhidas a dedo por interesses pessoais, opiniões concretas e embasadas serão desprezadas, e um veículo de informação se tornará um perigo em potencial, até o momento em que o discernimento criar opiniões fortes o suficiente para elucidar conceitos falhos.


Texto escrito em 06/05/2010, para avaliação escolar.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Os tomates estão passados...

Aquele era dia de feira para Maria das Graças e Lourdes. Cada uma pegou seu carrinho e foram conversando alegremente durante todo o caminho até o parque onde a feira era realizada. Lourdes notou algo estranho na amiga, mas resolveu não dar bola.
Enquanto escolhiam as laranjas, o assunto principal era a filha da vizinha que aparecera grávida. 
- Mas ô, Lourdes, a menina tem só dezesseis anos! - E virando-se para o vendedor - São fresquinhas essas laranjas, seu Valdomiro? ?
E a voz de Lourdes abafou a resposta:
- Pois é, Das Graças! E "tão" dizendo lá no Posto de Saúde, ouvi ontem, que ela não sabe nem quem é o pai!
- E para o verdureiro - Me vê meio "quilo" dessas laranjas aqui, não as mais maduras, que eu não quero não. Aquelas ali da caixa que "tão" no ponto.
- E "vê" pra mim umas quinhentas gramas, que vai ter visita lá em casa e eu "tô" pensando em fazer um creme de laranjas.
Passaram pela banca dos caquis sem nem olhar, achando absurdo o preço da alface e passaram reto também por esta banca. Enquanto falavam, Maria das Graças tinha o pensamento longe, e Lourdes não pode deixar de notar. Lá pela metade da feira, a curiosidade venceu Lourdes.
- Das Graças, você "tá" bem mesmo? 
Os olhos de Maria das Graças ficaram marejados e ela deu um sorriso melancólico à amiga.
- Ah, Lourdes, amiga! Não esperava que você fosse notar! Eu "tô" com tantos problemas em casa...
Os tomates ficaram esquecidos quando Lourdes resolveu consolar Maria das Gtraças.
- Mulher, não se abale! Pode desabafar... Vai, me conta tudo.
Sem perceber, Maria das Graças colocava aleatoriamente tomates na sacola e de volta a banca, mania compartilhada por Lourdes.
- Sabe o que é... Achei um lenço manchado de batom no bolso da calça do Gilmar...
-Ahhh, que desgraaaaçaa... Batom de que cor?
- Batom vermelho, Lourdinha! 
- Ah, meu pai eterno! O caso é grave, hein!
Alguns tomates rolaram pelo chão e o dono da banca resmungou algo, mas nenhuma das duas ouviu. 
- E o pior é que eu fui tirar satisfação com o Gilmar e ele disse que "tava" apaixonado e queria a separação!
Foi a vez de Lourdes largar os tomates e então cobrir a boca com as mãos.
- Por Deus, Pai Santo!
- Pois é, menina... E a Rosinha, tá revoltada... "Tá" querendo largar a escola, anda recebendo telefonemas estranhos de homens querendo marcar encontros... 
Lourdes ajuntou os tomates.
- E o que ela diz de tudo isso? 
- Ela não diz nada... Mas ouvi umas conversas dela e... - Maria das Graças desatou a chorar - eu acho que minha filha "tá" se prostituindo, Lourdes!
Mais uma vez, Lourdes cobriu a boca com as mãos.
- Menina, mas que zica você "tá", hein!
Remexendo as alças da bolsa, Maria das Graças continuou, tristonha.
-E o Juninho, garota! Meu menino passa a noite fora de casa, e dorme o dia todo! Achei uns cigarros estranhos nas coisas dele... Parecia maconha... 
Lourdes já estava perdendo o interesse agora escolhia tomates com mais atenção que ouvia a amiga.
- Menina, procura um pai-de-santo, uma benzedeira! Isso só pode ser olho gordo!
Maria das Graças chorava. Continuou desabafando com Lourdes, enquanto percorriam a feira. Já Lourdes, ia em silêncio, fazendo comentários oportunos e dando conselhos aparentemente excelentes, mas completamente vazios de interesse e vontade de ajudar. Seu único interesse no momento era o que preparar no almoço. 
Ao fim da feira, dirigiram-se para casa. Em uma certa esquina, Maria das Graças abraçou Lourdes afetuosamente.
- Como é bom ter uma amiga interessada como você! Obrigada, sei que posso confiar em você!
E então se separaram.

Lourdes chegou em casa, desembrulhou as compras da feira e examinou os tomates.
- Mas como sou boba! Escolhi tomates passados por causa das chorumelas da Das Graças!
Então, relembrou as coisas que a amiga contou e correu ao telefone.
- Dejanira? Sabe quem encontrei hoje na feira? A Das Graças, ela... 
A conversa se estendeu por horas

Na próxima feira, o assunto era Maria das Graças, seu marido infiel, seu filho drogado e sua filha prostituta.


Texto escrito no primeiro semestre de 2009, para avaliação escolar.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Depois do Fim

A noite estava quieta. Nenhum rumor na rua deserta.
Abri meus olhos. Só conseguia enxergar o brilho difuso das estrelas, muito longe de mim.
O que havia acontecido? Quem eu realmente era?
Aos poucos, as lembranças foram voltando... Aos poucos, eu fui recobrando os sentidos. 
Eu estava caminhando pela rua... Investigando mais um desses crimes aparentemente sem solução. Estava feliz... Exultante, quase eufórico. Acabava de descobrir a solução de um mistério insolúvel. Quem roubara as jóias da condessa fora a sua antiga camareira e ama-de-leite. 
Corria em direção da delegacia, apresentar a denúncia oficial e depois iria até o palácio da Condessa oferecer a solução do crime.
E...Então...
EU NÃO CONSIGO LEMBRAR!
Essa dor me torturava! Parecia que alguém martelava em minha cabeça com um martelo de ferro, sem piedade...
Vamos... Apenas um pouco mais de esforço...
Então... Um vulto... Sim, um vulto masculino... Passos abafados... Uma voz cruel... Uma mão fria em meu pescoço... E... Uma pancada seca em minha cabeça...
Em seguida... O silêncio, a ausência total de ruídos... A falta de dor... A luz... E o vazio...
Nada mais.
Vi minha vida passar toda em minha frente.
Os primeiros passos... O primeiro dia de aula!
A primeira namorada... O dia do meu casamento... O nascimento de meu primeiro filho...
Senti meu rosto se iluminar em um sorriso... Mas... Ah, a dor!
Vi minha esposa deitada em seu caixão... Nosso filho chorando de fome... Meu primeiro assalto... Mas foi por um bom motivo, MEU FILHO TINHA FOME! Desespero... E... Quando fui pego... Me pegaram roubando o leite para sua refeição.
E o acordo.
A polícia perdoaria meus erros se eu trabalhasse para eles, Me acovardei. Aceitei. Errei.
Tentaram me corromper. Eu deixei. E vi cada suborno passar na frente de meus olhos. 
As lágrimas agora molhavam meu rosto em intensidade muito maior do que a chuva abençoada lavando as imundas sarjetas onde me encontrava caído.
E.. O declínio... O fracasso.. As bebedeiras... Poucos casos me eram entregues...
E essa era minha chance. Minha chance de ter novamente prestígio. 
Bastava entregar a camareira.
Mas...
A pobre mulher não tinha culpa! Eu não poderia culpar uma inocente!
Então, revi tudo o que sabia sobre o caso. E a solução foi tão fácil, tão óbvia! Fora o amante. Mas ele era extremamente rico e influente... 
Não importava. Eu o entregaria.
E... A voz.
Dizendo que eu já suportara o bastante. Ganharia uma chance, última e única, de fazer a coisa certa. 
E eu vou, Vou sair dessa sarjeta. Cumprir meu dever. Aí então poderei. 
Ah... Poderei novamente olhar sem culpa para os olhos de meu filho.


Texto escrito em 13/05/2008 para avaliação escolar.