segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Fastio existencialista

As palavras de Fitzgerald ainda ecoavam em sua cabeça e reverberavam em suas entranhas. “Transformando o amor em um acidente”. “Estou cinco anos além da idade em que poderia mentir pra mim mesmo e chamar isso de honra”. “Em direção ao passado.” As palavras submergiam na forma de lágrimas que ela teimava em segurar.

Se o fotógrafo de Palahniuk tentasse captar seu fastio existencialista distante em um flash, ele não seria capaz. O cansaço era como o gosto de cigarro na sua boca. Ninguém notaria, a não ser que lhe beijasse os lábios. Talvez uma brisa fosse capaz de movimentar as ondas do seu cabelo de forma a revelá-lo uma única vez aos sentidos de um observador atento.

Se fosse música, seria jazz. Ou um blues, com lágrimas e sangue em cada nota, mesmo nas alegres. Seria a intensidade da black music, em letra e melodia. Jazz que se perde em múltiplos braços e movimentos inúmeros, pra voltar a se encontrar na solidão.


Ela procura a solitude no meio da multidão. Na fila do restaurante, a moça de cachos ruivos e pentagrama no pescoço lhe desperta intenções pagãs. Na mesa ao lado, olhos curiosos se prendem ao seu livro. Os seus próprios olhos se perdem no nada.