A vida é cíclica. Nada poética essa palavra: cíclica. Cí-cli-ca. Burocrática e repetitiva. Também o é a vida. Sabe, tudo se repete. Tudo volta a acontecer. Você vê o relógio dar tantas voltas que te deixa tonta, se distancia de tudo que já foi, move montanhas e reinventa galáxias. E eu me vejo lidando com as mesmas coisas. Os mesmos sentimentos e as mesmas sensações.
No fundo, é o pecado original. E eu não estou falando de religião. Por favor, cara Igreja Católica. Permita-me roubar o conceito de “pecado original” para ressignificar como “atitude que te expulsa do lugar de felicidade para te lançar no padecimento eterno e irreparável”. Falo do pecado original único de cada indivíduo. Aquela dor primeira que ainda doi e jamais cicatriza.
Pra mim, falo daquele desespero secreto e rascante quando ouço teu nome por acaso. Daquela certeza que mesmo teu oposto tem o mesmo olhar que tu. Olhar manso, olhar intenso. Inofensivo, que derruba todas as barreiras. Pra me fazer reconstruí-las em material mais forte no final.
Toda dor se parece infinitamente com a dor original
Todo ciclo pode acabar com o mesmo final
E eu me recuso a crer que é normal
Todo sentimento de ternura abismal
Se desfazer em tristeza estrutural.