Eu desci do teu carro com as
pernas bambas e o gosto de último beijo nos lábios. Não que você tenha dito que
era o último. Mas eu sempre fui uma ótima leitora e li nos teus olhos todas as
entrelinhas do que você não disse. Desci apressada pra fugir de perto do mais
bem sucedido fracasso amoroso.
Teu abraço forte, teus braços
me dizendo que me queriam perto já não foram mais suficientes para me convencer
que tua atuação comigo era real.
Isso já faz tanto tempo que
nos perdemos entre mentiras e confissões. Naquelas coisas importantes que só eu
sei e nas banalidades que eu jamais saberei. Já faz tanto tempo que eu não vejo
mais você nos gestos alheios, nem te ouço nas músicas que me inspiravam.
Se já não te vejo num
qualquer, ainda sinto teus lábios nas minhas têmporas. Ainda sinto o cheiro de
fruta do teu cabelo e ouço tua risada insana que me devolveu a sanidade de
sentir.
Querida farsa... Tua atuação
foi comigo ou segues todos os dias encenando uma peça sem último ato? Até
quando vais seguir camaleão, mudando a atuação como o sol muda a cor dos teus
olhos?
Amada farsa. Teus olhos de
cor incerta me davam a certeza de que perto de você eu não poderia nem deveria
me sentir segura. Agora eu vejo que não tive sensibilidade suficiente pra te
captar nos momentos em que você se revelou sem querer. Ou talvez eu tenha
capturado pra mim tudo que vi em ti de tão bonito... E agora só sobrou o que eu
não quis ver.
Se fecho os olhos, ainda
vejo o menino que amei em ti.