Se você estivesse aqui, te
convidaria para um café. Naquela rede capitalista, onde nós, esquerda convicta,
encontramos um espresso excelente e um refúgio magnífico. Não é contrassenso.
Contrassenso é saber que a poetisa em mim ainda te acha inspirador. Contrassenso
é dialogar contigo sentada frente à folha em branco.
Eu gostaria de te convidar para
um café pra te perguntar, poeta, se essa solidão é crônica. Te perguntar se ela
nasce com a gente, impregnada nos ossos, no sangue nos genes, ou se em algum
momento que todos desconhecem, a gente a adquire, no cheiro da terra ou numa
brisa que sopra vinda de algum lugar.
É que eu percebi que mesmo
quando minha gargalhada nada discreta enche a sala e os ouvidos dos meus
amigos, mesmo quando os sons que enchem o ambiente são gemidos e mesmo quando
me aninho em braços queridos, há uma parte de nós que ninguém toca. Tomo a
liberdade de dizer “nós”, poeta, por um lampejo de clarividência que me faz ver
nos teus olhos o mesmo que me encara quando paro em frente ao espelho. Essa
parte fica reservada para a poesia. A poesia que somos e aquela que escrevemos.
Estive lendo meu favorito, meu
delicioso Gabo. Estive tomando café e me embriagando da sétima arte (a
propósito, um filme excelente, deverias vê-lo). Estive me identificando com o
clã solitário dos Buendía e perguntando às paredes se é genético, crônico ou
agudo. Se a solidão é mal de quem nasce assim, com a poesia intrincada na pele,
ou se alguns poetas não a experimentam jamais.
Pobres deles, dos que nunca
experimentam. Ou pobre de nós, dos que nunca a abandonam? Pobre da solidão,
creio eu. Ela escolhe umas almas muito peculiares para montar acampamento.
Encerro esse texto-carta-ensaio
assim, sem final, porque também eu permaneço sem respostas.
Escreva-me.
Eu ainda escrevo para ti. Eu
ainda escrevo você.
Te escrevo.
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