O relógio se aproxima perigosamente das três da manhã,
aquela hora em que a solidão ataca da forma mais cruel. Da minha janela, aberta para o vento frio, posso ver a caixa d'água e a lua. O player está tocando
aquela canção triste, e ela nunca fez tanto sentido. Abri uma foto tua e fiquei
encarando teus olhos na tela do computador.
Céus, Bukowski invejaria o fundo do poço em que me joguei. A
garrafa de bebida barata aos pés da cama, a caneca de café vazia, o alimento
mal tocado. Os extremos aos quais quero levar meu corpo pra esquecer o que tu
sabe fazer com ele. Todos os homens que me desejaram depois de ti e o grito
silencioso dos meus olhos pedindo que tu, pelo amor de alguma divindade, me
impeça de mergulhar num caminho de onde sei que não voltarei.
Eles querem de mim o que só tu seria capaz de extrair. A
entrega total. O acesso total. Tu não precisaste pedir por isso. Ainda me
assusta a forma como tu soubeste ler o que ninguém mais sequer tentou entender.
Ainda me assusta que eu tenha puxado os lençóis
para cobrir meu corpo quando tu deixaste minha essência nua.
Keaton Henson está certo. Estou mentindo para todos eles. E
talvez eu esteja mentindo pra ti também. Quem sabe se não minto pra mim,
inclusive. No fundo, eu sou uma solitária. Um desses homens íntegros, honestos
e intensos me perguntou se eu acreditava que estaria sempre sozinha. Respondi
que não. E não menti. Mas existe uma possibilidade muito grande de que eu
acredite que estarei sozinha em todo momento em que desejar companhia. Como
agora.
Eu fico aqui deitada, jogando com o destino e pedindo por um sinal que eu sei que não virá.
Well, you know. I’m all about that bass. And you, bass
player, know how to pull my strings.