terça-feira, 26 de junho de 2012

Les Bagages



Quisera eu saber por quais estações já andara
Que recordações abrigara
Que paisagens vislumbrara

Quisera eu saber quais as rendas delicadas e
Sedas mui finas e lãs grosseiras carregara
Vestidos de festa, ternos e sobretudos
O macacão do trabalhador

Quisera eu saber que livros e enciclopédias
Folhetos marxistas ou missários encerrara

Quisera eu saber as fotos que transportara
Os pedaços de mundo que protegera
E os sonhos esquecidos no fundo
Perdidos pelo forro
Amarelados pelo tempo
Desgastados pelo movimento

Quisera eu ouvir a história
De uma mala despedaçada
Abandonada na intempérie

Quisera eu não sonhá-las,
Múltiplas e romanceadas
Mas conhece-las,
Ainda que duras
Ainda que com menos suspiros.

Quisera eu vislumbrar o surreal que encerras
Que ultrapassa minhas infinitas realidades
E apreciar o cotidiano de tua poesia
A poesia do teu cotidiano. 

domingo, 17 de junho de 2012

Chiaroscuro


“Nunca consegui amá-las no claro-obscuro dos encontros e das distâncias”
Luis Alberto Warat



Eu não sei o que fui para ti, se o fui. Quem sabe eu ainda seja. Tu ainda és, não só para mim, mas em mim. Quem dera a luz se fizesse então escuridão para que a falta de teus olhos nos meus me trouxesse paz.
Fecho os olhos e vejo claro dentro da escuridão esse cruel jogo de antíteses que representas. Essa significação loucamente confusa e divinamente sensata que só tu conseguiste assumir na minha vida. Para depois sumir.
E eu, paradoxo humano que sou desde tenra idade, busquei na tua figura de poder a ressurreição de um natimorto simulacro de orientação, repressão, alento e recompensa. Busquei, para poder então aniquilar qualquer influência, estando já sob influência. Quis a liberdade nos grilhões do teu abraço.
Hoje vejo a crueldade e a constatei subjugação com que me releguei ao segundo plano. Mas não há remorsos. Je non regrette rien.
Tu, em cada ida e vinda, em cada segundo de força e fragilidade, caráter e desonra, a cada vez que me afaga para então afastar. Tu, criatura do chiaroscuro que me levou ao outro lado da lua.
Talvez seja a ti que aprendi a amar, mesmo sem desejar amar, mesmo sem o realizar. Ou talvez sejam só jogos de luzes que não me deixam ver o que tu já não és, nem chegou a ser.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Delirium


Tens o ar de cultura que te reveste contraculturalmente
Tens o olhar perverso de anjo caído, repleto da paixão que me desperta
Tens o sorriso blasé de um sonho que não se ousa sonhar
Tens a sinceridade quente que cheira a frieza
Entre tantos “ter”, TU ÉS, além do que quis e mais do que terei.
Se és carne, te quero na minha.
Se te deliro ou te pressinto, não sei.
Não és real, nem tuas ideias, eu sei – também as tenho
Surreal
Surreais
Será?