“– Meu
senhor, respondeu-me um longo verme gordo, nós não sabemos absolutamente nada
dos textos que roemos, nem escolhemos o que roemos, nem amamos ou detestamos o
que roemos: nós roemos. “ Machado de
Assis – Dom Casmurro
Você é
um verme. Sim, você é um verme. Ou já foi. Ou será. Não se ofenda. Já fui muito
verme também. Às vezes ainda sou, e tenho certeza que ainda serei outras tantas
vezes. Somos vermes quando aceitamos tacitamente qualquer coisa.
A
sociedade está completamente bichada. Tomada por vermes que leem, ouvem, riem,
trabalham, fazem, casam sem saber, escolher, amar ou detestar. Apenas roem.
Vermes que leem livros, jornais, revistas e não pensam sobre o que leram.
Vermes que escutam a música da moda (ainda que só quando estão “no clima”) e
dançam. Vermes que quando escutam pseudopiadas riem e gargalham com gosto só
porque Fulano de Tal é Fulano de Tal. Vermes que todos os dias fazem um
trabalho que odeiam, de forma mecânica, pelo salário no final do mês. Vermes
que se casam, constituem família, e dizem amar o pobre verme que é seu cônjuge
porque alguém um dia disse que se deve casar ou porque é mais cômodo assim. Ou
ainda por medo da solidão. Ou por conveniência. Vermes que tem medo são o
cúmulo da insignificância.
Ah, se não
fôssemos todos vermes... Ah, se nos deixássemos ter opinião! Ah, se fizéssemos
as pazes com a crítica! Que outra vida seria esta. Porque é tão fácil não ser
um verme. Tão, tão fácil. Basta pensar e assumir a tua própria identidade. A
partir do momento em que usas a tão desprezada (desprezível, para alguns)
crítica, a partir desse mágico momento em que o id se reconcilia com o superego
e principalmente com o ego (ou seja: que teus desejos e tua capacidade de
repreensão estão em harmonia com quem tu és – perdão, ó Freud, pela torpe
simplificação) já não és mais um verme!
Não
dói, eu te asseguro. É verdade que os outros vermes não vão mais te aceitar. É
verdade também que eles vão te causar repugnância. Mas é ainda mais verdade que
tu vais deixar de lado a maleabilidade sem forma e sempre igual de um verme e
tornar-te. Simplesmente tornar-TE. Algo além de um pálido reflexo de um mundo
bichado com pessoas bichadas de valores bichados.
Se até
agora não consegui te convencer, lanço o último de meus topoi. Definitivamente,
vermes são nojentos.
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