quinta-feira, 12 de julho de 2012

Vermes Machadianos


– Meu senhor, respondeu-me um longo verme gordo, nós não sabemos absolutamente nada dos textos que roemos, nem escolhemos o que roemos, nem amamos ou detestamos o que roemos: nós roemos. “  Machado de Assis – Dom Casmurro


Você é um verme. Sim, você é um verme. Ou já foi. Ou será. Não se ofenda. Já fui muito verme também. Às vezes ainda sou, e tenho certeza que ainda serei outras tantas vezes. Somos vermes quando aceitamos tacitamente qualquer coisa. 
A sociedade está completamente bichada. Tomada por vermes que leem, ouvem, riem, trabalham, fazem, casam sem saber, escolher, amar ou detestar. Apenas roem. Vermes que leem livros, jornais, revistas e não pensam sobre o que leram. Vermes que escutam a música da moda (ainda que só quando estão “no clima”) e dançam. Vermes que quando escutam pseudopiadas riem e gargalham com gosto só porque Fulano de Tal é Fulano de Tal. Vermes que todos os dias fazem um trabalho que odeiam, de forma mecânica, pelo salário no final do mês. Vermes que se casam, constituem família, e dizem amar o pobre verme que é seu cônjuge porque alguém um dia disse que se deve casar ou porque é mais cômodo assim. Ou ainda por medo da solidão. Ou por conveniência. Vermes que tem medo são o cúmulo da insignificância. 
Ah, se não fôssemos todos vermes... Ah, se nos deixássemos ter opinião! Ah, se fizéssemos as pazes com a crítica! Que outra vida seria esta. Porque é tão fácil não ser um verme. Tão, tão fácil. Basta pensar e assumir a tua própria identidade. A partir do momento em que usas a tão desprezada (desprezível, para alguns) crítica, a partir desse mágico momento em que o id se reconcilia com o superego e principalmente com o ego (ou seja: que teus desejos e tua capacidade de repreensão estão em harmonia com quem tu és – perdão, ó Freud, pela torpe simplificação) já não és mais um verme! 
Não dói, eu te asseguro. É verdade que os outros vermes não vão mais te aceitar. É verdade também que eles vão te causar repugnância. Mas é ainda mais verdade que tu vais deixar de lado a maleabilidade sem forma e sempre igual de um verme e tornar-te. Simplesmente tornar-TE. Algo além de um pálido reflexo de um mundo bichado com pessoas bichadas de valores bichados. 
Se até agora não consegui te convencer, lanço o último de meus topoi. Definitivamente, vermes são nojentos. 

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